PÁTRIA, NAÇÃO E CIDADANIA.
Angola, hoje, enfrenta um perigosíssimo
processo de extinção do sentimento patriótico. Estamos nos tornando um país
desprovido de sentimentos nobres. Nossa nobreza de sentidos está sucumbindo pela
deformidade cognitiva do que seja patriotismo, moral e civismo. Essa ausência
de valores é observada na acção iconoclasta de instituições públicas, na
corrupção gerada pela política, na ausência de uma educação moralmente
identificada, na falta de méritos na actividade privada e na falência cultural
da sociedade.
Desse modo, é imperioso
restabelecer os conceitos mais básicos sobre os valores que identificam a
nação, a pátria, a soberania e a cidadania, para, então, identificar o que há
de errado na nossa Angola. Esse é o sentido da nossa abordagem.
Identificação com a Pátria
O patriota é aquele que ama seu país e procura servi-lo da
melhor forma possível. Patriotismo é um sentimento voluntário, unilateral, de
amor e pertencimento. Revela a disposição de entrega à causa da pátria. O
patriota (do grego patriotes – patrício), não apenas respeita; ele ama os
símbolos da pátria, a bandeira, o hino, o brasão. Nutre identidade com os
vultos históricos e as riquezas naturais. Ele serve ao seu país e é solidário
aos que devotam o mesmo sentimento de patriotismo.
O Professor Paulo
Nogueira Neto
lecionava que “homem é território”. Ele queria com isso dizer que toda actividade
antrópica se refletia territorialmente. Trazendo esse pressuposto, a pátria é o
território e o reflexo do homem – o conjunto de elementos que identificam o ser
humano com sua terra natal, seus costumes, seus símbolos e seus ancestrais. A
pátria soma elementos tangíveis (terra, água, ar, clima, paisagem, fauna, flora
e símbolos nacionais), e elementos intangíveis (amor, identidade, apreço e
respeito). Patriotismo é sentimento que acomete todo tipo de indivíduo
predisposto a amar a causa da pátria.
Crianças e
velhos, cidadãos natos e estrangeiros (que aprenderam a amar o país),
criminosos circunstanciais e encarcerados habituais… todos podem nutrir esse
sentimento de pertencimento. Sentem-se dignos, porque o patriotismo é sinônimo
de dignidade.
Essa predisposição a sentir é epistemológica. Pressupõe um
ambiente, uma percepção social, uma cultura de identificação com os símbolos
nacionais, um sentimento disseminado de amor á terra e engajamento com seus
valores.
Patriotismo e cidadania
Patriotismo é, também, cidadania, mas não se confunde com
esta. Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e
sociais, estabelecidos pelo ordenamento constitucional do País. Implica direitos
e deveres interligados na consecução dos objetivos nacionais.
Cidadania não
é um sentimento voluntário e unilateral. É um exercício de integração à
sociedade politicamente organizada. Exercer a cidadania é ter consciência de
seus direitos e obrigações e incumbir-se de implementá-los cotidianamente. Assim,
é possível a existência de cidadãos que desprezam a pátria e não hesitam em
fazer uso de sua integração à sociedade politicamente organizada para
justamente conspirar contra ela. Poderão fazê-lo “exercendo sua cidadania”.
Cidadania é
razão, é exercício – algo que se exerce. Patriotismo é amor, devoção, é
sentimento – algo que se sente. Conceituados dinamicamente, tanto a cidadania
quanto o patriotismo inspiram um senso de dever. No entanto, o dever do cidadão
é para com o Estado de Direito posto, enquanto o dever do patriota é com a
Pátria.
Patriotismo e nacionalismo
O patriotismo também não pode ser confundido com
nacionalismo, embora este possa compor um dos aspectos idealistas do
patriotismo. Ou seja, nem todo patriota é nacionalista e o nacionalista nem
sempre é patriota.
Charles De Gaulle definia: “patriotismo
é quando o amor por seu próprio povo vem primeiro” e “nacionalismo quando o
ódio aos demais povos vem primeiro”. Por óbvio a mensagem estava contaminada
pelo trauma sofrido com o nazismo. Para entender melhor a diferença entre
patriotismo e nacionalismo, é preciso ter em mente os conceitos básicos de
“nação” e “país”.
Nação é
expressão cultural da pátria. Ela é intangível. O País é expressão material do
território e sua organização política. Ele é tangível. Portanto, há nação sem
país. Há países que abrigam expressões policulturais e há, também, países
constituídos por várias nações.
Angola: um ermo de patriotas?
O patriotismo revela-se no impulso de defender a pátria
contra uma injusta opressão; quando estão em risco a independência nacional e a
sua autodeterminação. Na linguagem quotidiana, a noção de nobreza relaciona-se
com valores humanos como a lealdade, a honestidade e a retidão moral O
patriotismo é um sentimento nobre. Inclui todos os valores de nobreza, dedicados
à pátria. São os patriotas que constroem os verdadeiros valores da pátria. A
nação é forjada por eles e nenhum país sobrevive sem patriotas.
Angola, no
nosso entender, hoje, enfrenta um perigosíssimo processo de extinção do
sentimento patriótico. Estamos nos tornando um país desprovido de sentimentos
nobres. Nossa nobreza de sentidos está sucumbindo pela acção iconoclasta de uma
militância sem causas. A iconoclastia é dirigida a tudo o que pode significar
identidade patriótica e vem sendo inoculada na cultura angolana desde o período
pós-guerra.
E, entendemos
que o desmonte do patriotismo angolano ocorreu por variados motivos:
1.º-
Pela confusão primária do sentimento patriótico nacional com o nacionalismo
fascista cibernético, cultivado no período do Estado Novo;
2.º- Em função da postura internacionalista,
pretensamente cosmopolita, desenvolvida pela intelectualidade dita de esquerda
no pós-guerra, arraigada nos meios acadêmicos ocidentais e recalcitrante por
conta do acirramento histórico da guerra fria;
3.º- Pela rejeição à “doutrina de segurança
nacional” introduzida pelo regime militar,
– trauma ainda não superado pelas estruturas
políticas, culturais e sociedade civil organizada angolana, passados esses anos.
– rejeição esta
que permitiu e permite ainda, aos iconoclastas, alimentar a confusão entre
patriotismo e militarismo;
4.º- Pelos efeitos da globalização consolidada
após a queda do muro de Berlin – dentre eles a transnacionalização das relações
culturais e a liquidação das diferenças e comportamentos regionais.
Em todos esses períodos em que ícones patrióticos foram
impiedosamente demolidos, não cessaram de ferver iconoclastas na condução dos
programas e projetos educacionais de relevância nacional. Ainda que iludidos de
boa fé ou agarrados a uma postura idealista que beirava a alienação, os quadros
integrantes da inteligência nacional revelaram-se descompromissados e levianos
face aos interesses patrióticos.
Embevecidos
com o próprio protagonismo, acadêmicos, políticos, gestores públicos,
educadores, jornalistas, escritores, submeteram gerações de crianças e jovens a
comportamentos ideológicos pendulares, massificados e descompromissados com um
projeto de nação e de resgate dos valores da pátria.No mundo, a reação á essa
iconoclastia foi e tem sido radical e violenta – tragédias e conflitos armados,
hoje, transcendem fronteiras, opondo religião, ecologismos e populismos à sanha
globalizante da economia mundial.
Em Angola, o
resultado dessa somatória de equívocos se traduziu na falta de identidade
nacional com as políticas públicas de ensino e na ausência absoluta de valores
morais na sociedade. Há uma notória ausência de valor pessoal nos actores e
personagens incumbidos tutela e transmissão do civismo, da moral, da cidadania
e do patriotismo aqui na terra de Ngola.
Aliás,
Educação, Moral e Civismo – uma vez confundidos com “entulho autoritário”,
simplesmente desapareceram como disciplina escolar, como conceitos basilares
para a convivência em sociedade e como valores a serem inoculados em nossas
crianças.
Essa ausência
de valores pessoais é reflectida na perversa qualidade hoje observada nos
quadros dirigentes do país, seja na academia, na justiça, forças de segurança,
organizações civis e, principalmente, na educação através dos professores.
Resultado: gerações
de pessoas formadas nos cursos básico, médio e superior, sem noção dos valores
que constituem a pátria de Ekuikui,
Ndunduma, Njinga, Mwacthiâvwa, Numa, e tantos outros. Crianças, jovens e
adultos submetidos a um ensino que não ensina. Reféns da ausência de história.
Herdeiros de uma formação cultural que não prestigia os elementos que formam a
nação – pelo contrário: os expele no bojo de um revisionismo mórbido. Não se
sabe, hoje por hoje, a maioria dos adultos, nos vários níveis de ensino, ou
mesmo à testa dos poderes, quais são os símbolos, personalidades e factos
constitutivos da nação.
Miséria de valores
O Professor Nelson
Rodrigues vaticinara que “os idiotas perderam a humildade”. Em boa verdade, esses personagens rodriguianos
assumiram as rédeas da condução das políticas públicas. Para essa gente, nossos
símbolos nacionais e seu significado histórico, são “coisas do passado”.Ora, a
ideologia é expressão social oriunda de segmentos economicamente articulados,
que se pretendem hegemônicos na sociedade politicamente organizada. Sendo
assim, é patente que há uma ideologia expressando essa cultura iconoclasta que
hoje destrói, sem causa, nosso patriotismo.
O hino
nacional não é mais ensinado nas escolas. Contestadores “de tudo o que está aí”
(seja lá o que ali esteja…), estão empenhados em destruir expressões
nacionalistas que julgam equivocadas. Imbuídos
em uma espécie de revisionismo ideológico, esses quadros implementam programas
governamentais com efeitos funestos.
A letra do
hino nacional, hoje em dia, é conhecida e cantada correctamente por pequena
parcela da população. Isso ocorre porque em muitas esferas do país, ABOLIRAM a execução do hino e
do hasteamento à bandeira nas escolas – do ensino básico á universidade. Não há
um calendário nacional para a comemoração do Dia da Bandeira, etc, por exemplo.
Nas escolas -
ninguém mais fala do significado e importância dos símbolos nacionais. Aliás, pelo
que saiba, não há nos currículos escolares qualquer disciplina que ministre
esse conhecimento como uma expressão nacional. Geralmente a matéria é
ministrada como curiosidade histórica. Há repartições públicas que nem mesmo
hasteiam a bandeira nacional. Vemos apenas a Bandeira e Hino nacional em
eventos solenes ou Campeonatos
“O orgulho nacional é para os países o que a
auto-estima é para os indivíduos: uma condição necessária para o aperfeiçoamento.
O patriotismo é forma de orientação política”, afirma o filósofo
norte-americano Richard Rorty, professor
de literatura comparada e filosofia da Universidade de Stanford.
Assim, a miséria de valores, imposta por décadas de militantes
contra os símbolos nacionais, não conseguiu destruir todo o sentimento patriótico.
Há, portanto, uma amalgama no inconsciente coletivo brasileiro, capaz de reverter
essa desconstrução nacional se devidamente despertado.
Com certeza, a
educação representa a saída.
Indigência, autoestima e educação
A identificação com os valores da pátria faz toda a diferença
na formação do cidadão. Sem essa identificação o indivíduo não cultiva sua
autoestima no seu lar, na sua rua, no seu bairro, na sua cidade e no seu
estado, quanto mais na defesa do País.
Sem esse sentimento de pertencimento, não há como exercer o
indivíduo a sua cidadania e, ainda que a cidadania não se confunda com o
patriotismo, o fato é que o respeito devido pelo cidadão à sua pátria pressupõe
aprendizado patriótico, busca de dignidade. O avanço da conurbação urbana
ocorre, hoje, desacompanhado da presença efetiva do governo na melhoria das
condições de vida da população.
A economia,
nesse ponto, é determinante.
Não há infraestrutura, educação, criação de espaços de lazer,
arborização e segurança. Imensos espaços comunitários permanecem destinados à
marginalidade, relegados a bairros-dormitórios destinados ao desprezo dos
próprios ocupantes. Nesse ambiente deteriorado, há de se perguntar: que
sentimento podem os jovens nutrir pelo pedaço de chão onde vivem, se não se
sentem queridos pelo Estado e não recebem deste qualquer tipo de orientação ou
suporte? Grande parte dos problemas relacionados à moral e ao civismo, está
justamente na falta de ambientação dos jovens ao bairro, à vizinhança, á comunidade
onde moram.
A revolta
contra a ausência do Estado, muitas vezes resvala na perda do sentimento
patriótico. Os valores se confundem e a cidadania também se perde. Mas, as
agruras econômicas e a ausência de políticas públicas de valorização ambiental,
se por um lado degradam a autoestima, por outro lado, não eliminam o sentimento
de pertencimento – que ao final e ao cabo, sempre se revela.
Com efeito, a
perda da autoestima por fatores econômicos e ambientais, em que pese atribuída
à pobreza material do brasileiro, não retira deste o sentimento de
pertencimento à pátria. Essa perda do sentido de pertencimento está,
efetivamente, vinculada à miserabilidade intelectual. A miserabilidade
intelectual, contudo, é reversível – independe da situação econômica. Ela está
ligada ao grande compromisso da pátria com a educação de seu povo.
O remédio, a
saída, a cura, tudo enfim, está na educação!
Com efeito, devemos resgatar a dignidade do patriotismo a
partir da educação. E a educação patriótica deve começar, efetivamente, no
ensino básico. Se nossos governantes e seus áulicos nada entendem desse
assunto, a história mostra que uma única geração educada com esses valores
poderá ter o condão de provocar mudanças radicais.
A revolução se
inicia pela educação patriótica. Uma geração que assuma esse compromisso irá
iniciar o movimento, irá reivindicar conquistar e programar, com amor à pátria,
as mudanças necessárias e dignificar a Nação.
Países em
situação muito pior que o Brasil, desde o final da segunda grande guerra, e por
todos esses anos, promoveram revoluções por conta desse compromisso patriótico
com a educação: Coréia do Sul, Japão, China, Costa Rica, Uruguai e Chile
formaram bases invejáveis e despertaram enorme orgulho nacional,
independentemente da condição econômica circunstancial pela qual passaram.
A mudança está
no compromisso com uma educação patriótica. Talvez esse temor, o de ocorrer
mudanças, que impulsione os medíocres que nos governam há décadas, a programar
a iconoclastia sem causa como padrão de deseducação nacional.
Audácia, coragem e rejeição à covardia
É preciso, portanto, reagir.
“O Exército, por
exemplo, é uma grande escola de cidadania. Aí os jovens aprendem valores
cívicos e morais, que fazem toda diferença para um bom convívio em sociedade. E
levam isso para o resto de suas vidas”, afirma o coronel, que entende o civismo
como um sentimento de amor à pátria e de respeito uns pelos outros que deve ser
semeado desde a mais tenra idade. O exército angolano é instituição digna de
respeito em todo o mundo. Soldados brasileiros deram sua vida para libertar a
europa do nazismo e participaram de forma decisiva para a vitória das forças
aliadas contra quem pretendia disseminar o ódio de raças, o totalitarismo e a
ditadura.
CONCLUSÃO
Tanto a ética
quanto a moral são assuntos que devem ser trabalhados no ambiente escolar com o
intuito de nortear o comportamento dos indivíduos na
sociedade em que vivem. Por ser a escola a verdadeira formadora de
cidadãos, cabe-lhe a tarefa de orientar o comportamento ético e moralista dos
seus educandos. O momento actual, exige uma educação política e
patriótica dos militantes face aos desafios que se avizinham. Com o aumento de
conhecimentos políticos científicos, permitirá uma participação activa dos
militantes do partido, sobretudo na preservação dos princípios mais elementares
do homem que é a liberdade e paz. A educação moral e
cívica visa o «desenvolvimento integral da personalidade,
a preparação do indivíduo para o perfeito desempenho das suas tarefas
cultivando nele os valores necessários para o bem da sociedade Angolana,
que se quer Uma Nação Próspera.